O acidentado caminho rumo à materialização da democracia é pródigo em obstáculos. Certamente é por isso, também, que ela jamais se perfectibilizou no País, pois, para além da juventude, da rusticidade, dos atropelos e das improvisações, como das subversões a institutos que funcionam em todo o mundo, menos aqui, muitos mais aparecem de inopino, cotidianamente.
Há um em especial que me incomoda pessoalmente, ao ponto de inúmeras vezes fazer descrer de possível superação a respeito do limbo de destinos em que estamos mergulhados. Mas é sensação momentânea, ainda que tátil e quase a cores, nos limites da sua transitoriedade.
Logo passa, melhor dizendo, em atenção aos amigos que me advertiram da relativa dificuldade de entendimento do que tenho trazido aqui. O óbice a que me refiro, e que logo ali na frente revelarei, incomoda e atrapalha, até atravanca, o que me parecer ser fundamental ao já demorado alcance da civilidade cada vez mais escassa em nosso meio social: o diálogo.
Eu já disse isso, mas... Desta feita, chamo atenção para a sempre presente advertência a propósito da "generalização", que tem o condão de atrapalhar raciocínios, articulações e, ainda, invariavelmente, conceder ao interlocutor sem razão algo em que se agarrar para o contraponto gratuito, ou a qualquer preço.
A proibição da generalização, ou atribuição da pecha generalista ao defensor de tese, ou à própria tese, se vulgarizou, tornando-se oportunista forma de dificultar o debate.
Ora, não pode mais dizer de grupos, gêneros, profissões, categorias, classes, ou o que sejam sem que se perca tempo ou espaço ressalvando não se estar generalizando. Não seria nada de muito caro, não fosse à escassez de lugar, oportunidade, atenção, meio e ouvidos para as ideias.
Mas não! É necessário gastar um pouco, ou muito disso tudo, que é quase nada hoje em dia, para deixar claro o que todo o mundo já sabe: não há intenção de generalizar. O exemplo clássico é o que se diz de políticos. Ou ainda há dúvida de que quando mencionados os feitos por tal casta, em reprovação, está-se nítida, óbvia, recorrente, novamente, costumeiramente e automaticamente referindo-se a tão somente os canalhas?
E o debate se torna prolixo e enfadonho para distinguir o que todos sabemos já distinto. Serve para advogados, juízes, promotores, partidos, empresários, sindicalistas, jogadores de futebol, etc. Todos já sabem que não se está generalizando nem quando elogios são propalados.
Não é necessário que haja um fiscal de plantão em cada canto para recordar o inesquecível. Essa pedra no caminho do diálogo que deve evoluir é peculiar aos chatos. Sem generalizações, é claro.